Público - ECONOMIA
02.01.2010 - 14h45
Por : António Correia,
Partner da PricewaterhouseCoopers
Investir em Empresas Sustentáveis
O investimento em sustentabilidade é uma das tendências mais em foco no mundo empresarial, gerando um crescente interesse entre um leque diversificado de investidores.
Os números falam por si: os Princípios para o Investimento Responsável das Nações Unidas (UN PRI, na sigla em inglês), uma iniciativa que promove a integração de factores de sustentabilidade nas decisões de investimento, têm neste momento signatários que representam activos no valor de 15 biliões de dólares globalmente.
Mas, a questão é:
faz sentido considerar a sustentabilidade? Pode o desempenho financeiro ser melhorado através do investimento em empresas sustentáveis?
Numa economia de mercado, a posição competitiva de uma empresa determina o seu potencial de criar valor. A nossa convicção é que as tendências de sustentabilidade como as mudanças climáticas, a eficiência dos recursos, ou a expansão demográfica têm um impacto no ambiente em que as empresas competem.
O investimento sustentável é uma abordagem de investimento a longo prazo que integra aspectos económicos, ambientais e sociais na selecção e retenção de investimentos. Muitos denominados de “intangíveis”, entre outros, pelo facto do seu real valor não ser facilmente mensurável. Factores como a reputação, a motivação, a satisfação, a inovação aparecem hoje no topo das preocupações dos executivos mundiais. Não lhes dar a devida a atenção, e mais, não os gerir é não ter presente a prosperidade da organização e dos seus stakeholders no longo prazo.
Além disso, os mercados de capitais estão cada vez mais atentos ao valor dos activos intangíveis para a empresa. Como demonstra o seguinte diagrama, o rácio médio do valor contabilístico (book value) em relação ao valor de mercado geral caiu significativamente nas últimas décadas; isto implica que a capacidade de uma empresa fazer crescer os seus lucros depende cada vez mais de activos intangíveis como a qualidade da gestão, o poder da marca, o desenvolvimento do capital humano, o capital intelectual, entre outros. Tendo em conta estes factos, parece claro que os profissionais de investimento não podem mais deixar de lado o valor dos intangíveis, quando realizam análises dos fundamentais de uma empresa.
A Banca e os mercados de capitais também têm tirado partido de novos produtos ligados à sustentabilidade. Estes produtos respondem a novas prioridades de muitos investidores, incluindo uma segunda geração de famílias ricas que têm a intenção de depositar as suas heranças de formas socialmente responsáveis, investidores institucionais (fundos de pensões) que procuram retornos acima da média a longo prazo, e empresa sustentáveis que pretendem responder a essas prioridades. Produtos já com um histórico assinalável incluem índices de sustentabilidade como o Dow Jones Sustainability World Index, fundos de energias renováveis, fundos ligados ao sector das águas e fundos de investimento socialmente responsável (SRI). Existem outras oportunidades ao nível do financiamento de capitais de risco de projectos de energias alternativas e de outros negócios que tenham como objectivo proteger o ambiente, bem como o comércio de emissões de carbono.
Portugal tem vindo a acompanhar esta tendência, mas ainda há muito a fazer. As empresas que querem ser competitivas e os investidores institucionais, não podem mais ignorar a importância dos factores de sustentabilidade para o seu sucesso.
É esse o caminho que estão a trilhar as mais de uma centena de empresas que estão a participar no Prémio Cidadania das Empresas e Organizações. O prémio divide-se em duas categorias, sendo que a primeira pretende reconhecer as empresas mais bem sucedidas na aplicação das suas políticas de responsabilidade social, em três vertentes: económica, social e ambiental. No caso da categoria destinada a Organizações Não Governamentais (ONG), mais do que reconhecer o seu empenho na aplicação de medidas efectivas, pretende-se apoiar na melhoria de implementação das mesmas.