SportTV - José Mourinho é eleito o Melhor Técnico de 2010 / FIFA 2010
José Mourinho
eleito
o Melhor Técnico de 2010
foto retirada da net
Mourinho
o Treinador que Derruba Definições
por Manuel Queiroz ,
Publicado em 11 de Janeiro de 2011
Depois do Special One já não se aceita a célebre definição de Platini, segundo a qual o treinador valeria 15% dos êxitos da equipa
Num país que tem poucos campeões da Europa ou do Mundo, José Mourinho é um caso à parte. É um campeão de tudo, a começar pela comunicação - agradeceu em português e como um "orgulhoso português" na cerimónia de ontem no Palácio dos Congressos de Zurique - e a acabar nos seus inúmeros títulos no desporto mais competitivo do mundo. Ontem ganhou o prémio de Melhor Treinador do Mundo, instituído pela primeira vez pela FIFA, que manda em todo o jogo.
No futebol esta foi a década de Mourinho, e não só pelos títulos. Até aparecer o Special One, aceitava-se, ainda que com algumas variações, a célebre definição de Michel Platini, segundo a qual um treinador valeria aí 15% dos êxitos de uma equipa.
Depois de José Mourinho, essa definição está ultrapassada, laminada por uma personalidade única, talvez irrepetível. Um treinador já não é apenas um líder de uma equipa, é um personagem que estende a sua influência para além do campo de jogo. Não é só um líder, é um herói que nunca ganha convencionalmente ou só porque tem melhores jogadores. Descobre-se sempre mais qualquer coisa. Sempre centrado no jogo - nunca se alarga para a política ou para outra área qualquer -- mas comunica de uma forma que as pessoas querem ouvir, comentam, se interessam. E gosta - ó, se gosta - de ser admirado.
É uma personalidade magnética que não se limita a ganhar, domina o mundo à volta, atrai os holofotes. Não é o herói épico, é às vezes um Dom Quixote, outras o Grande Gatsby, mas sempre o herói que subverte códigos, não aquele que se redime pelo supremo sacrifício. É um herói que aceita muitas vezes ser vilão, porque tem sempre um objectivo claro, que persegue, e só esse lhe interessa realmente. E a esse sacrifica quase tudo. Nisso tem muito de Pinto da Costa.
Os seus interesses mandam sempre, mesmo que isso não seja o máximo que se pode dizer de um desportista. Mas ele não é um desportista, é um profissional. Na alta competição, ser desportista e ser profissional são conceitos que muitas vezes se opõem.
Mas ser profissional, para Mourinho, é ser afectivo, é criar uma relação com os outros, com os seus jogadores, que lhe devotam uma admiração que chega a ser idolatria. Até porque ele os escolhe - quer, normalmente, gente com vontade férrea. As estrelas, os génios só lhe interessam se se puserem ao seu serviço, porque ele garante que será capaz de lhes dar uma equipa. Ele faz a equipa, como líder incontestado. Não sabe tudo, e ouve os seus colaboradores, mas comanda tudo. Decide.
É o contrário do português suave. É o português sem medo, que sabe que em Inglaterra, ou em Itália ou em Espanha, um português não é aceite, impõe-se. E um pouco de show off, impecavelmente encenado, também ajuda num espectáculo hipermediático chamado futebol.
Filho de um guarda-redes, Mourinho comeu futebol desde que nasceu. Não deu para jogador, felizmente...
http://www.ionline.pt/conteudo/97863-mourinho-o-treinador-que-derruba-definicoes