Diário de Notícias
07.02.09
A paleontologia
e os fósseis ao virar da esquina
FILOMENA NAVES
Fósseis. Lisboa está cheia deles. Nas calçadas, nas escadarias, nas fachadas dos edifícios, nos bancos antigos. O liós, a pedra branca que dá aquele toque de luz especial à cidade, tem a marca do Jurássico
Sinais do Jurássico na calçada lisboeta
Estão debaixo dos pés a cada passo, à altura dos olhos nas paredes da cidade, mas nem reparamos neles, quando passamos apressados. Os fósseis estão por todo o lado, em Lisboa, impressos na superfície do liós, a nobre pedra branca da região que serviu de material para a construção que, ao longos dos séculos, deu forma à cidade.
"São fósseis de organismos marinhos extintos há muitos milhões de anos e contam histórias de vida e de morte na calçada lisboeta e nas fachadas dos prédios antigos e históricos da capital", diz o geólogo e paleontólogo Carlos Marques da Silva, do departamento e Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
Foi no seu trajecto habitual entre o seu gabinete, que nos anos 90 ainda era no edifício do Museu Nacional de História Natural, na Rua da Escola Politécnica, e o barco para Almada, no Cais do Sodré, que o professor e investigador de geologia e paleontologia começou a olhar para os fósseis, a cada passo. "A certa altura pensei que era engraçado mostrar aos lisboetas a cidade nesta perspectiva. Com o meu colega Mário Cachão começámos a fazer este passeio, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais", explica Carlos Marques da Silva. A adesão foi grande. De tal forma que, a partir de 1998, os dois professores da FCUL passaram a fazer estes percursos de forma organizada, no âmbito da programação da Geologia no Verão, do Ciência Viva. E, desde então, continuam a fazê-lo.
"A filosofia desta paleontologia urbana é levar a montanha a Maomé", explica Carlos Marques da Silva. Ou seja, se os lisboetas não saem da cidade para desfrutar do que a geologia e a paleontologia têm para lhes oferecer fora de portas, então podem muito bem começar a olhar para a riqueza que têm, literalmente, debaixo dos pés, quando passeiam, por exemplo, na Baixa. Dessa forma, as pessoas passam a poder reconhecer também os fósseis que estão por todo lado, no pavimento dos passeios, nas escadarias das igrejas ou nas fachadas dos prédios antigos.
O DN fez esta "caminhada paleontológica" guiada por Carlos Marques da Silva, entre o Terreiro do Paço e o Rato, passando pela Rua do Arsenal, o Largo de São Paulo, Rua do Alecrim e, por aí acima, até ao Rato, ao longo da ruas D. Pedro V e da Escola Politécnica. Aprendem-se palavras novas, como os nomes dos fósseis rudistas, recua-se muito tempo, até há 150 milhões de anos, no Jurássico Superior, quando toda a região de Lisboa estava coberta por um mar tropical pouco profundo, cheio de pequenos organismos, como moluscos e bivalves, que já não existem há muito. Esse percurso, e o que fomos vendo, aqui fica. Venha daí.
♦♦♦
Fotos retiradas de:
webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleourbana/Paleourbana.htm
Fósseis ao virar da esquina
Percurso urbano de interpretação paleontológica